Homegoing por Yaa Gyasi: Revisão

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The MNS Projek is a response to the linguistic parameters set afoot in the
western world and beyond via chattel slavery and colonization.


HOMEGOING POR YAA GYASI: Revisão por Sidik Fofana

O poema “Blue Seuss” por Terrance Hayes começa assim: “Pretos amontoados em caixas sobre caixas/ Pretos em caixas amontoadas em áreas litorais” e termina “Pretos em fileiras de casas estão/ Pretos em caixas também.” É o mesmo tipo de caminho Africano-Americano, desde a costa da terra mãe até as planícies rochosas do mundo ocidental, que sirva como guia para Homegoing, a novela de estreia de Yaa Gyasi. Este livro é uma cabaça de várias gerações que percorre séculos desde o Fanteland em Gana a Harlem, até Huntsville, Alabama. No coração do enredo é uma história matrilinear de duas irmãs, uma que demonstra uma linhagem ganense muito distinta, a outra de predecessores de escravos americanos. Ao final do livro o leitor contempla, sem banalidades, que possivelmente todos nós somos da mesma família—que, talvez, todas nossas histórias pudessem ser explicadas por um pequeno desvio histórico.

Ao compreender Homegoing nós entendemos que, mesmo na altura do comércio transatlântico das pessoas escravizadas, houvesse dois grupos completamente diferentes de mulheres africanas que poderiam ser viáveis. Effia, a filha legítima de um chefe Fante envolvido no tráfico de escravos, é despachada para viver como a esposa de um homem britânico. Sua personagem é atormentada por seu papel no comércio de escravos. James, o neto de Effia, se renuncia a seu passado para viver no anonimato com uma mulher de uma vila. A filha de James, Abena, faz uma renúncia parecida. O neto de Abena, Yaw, se casa com sua faxineira quase como um ato de misericórdia para os pecados dos seus antepassados. Nós gostaríamos de pensar que apenas os europeus foram atormentados pelo legado da escravidão, mas os vitimizadores também eram pretos e frequentemente compartilharam a mesma linha de sangue que as vítimas.

Ao contrário, Esi, a criança bastarda, sofre com os demais e é vendida no cativeiro, iniciando sua linhagem numa trajetória Americana. Sua filha, Ness, é mantida, contra sua vontade, como uma reprodutora. Duas gerações depois, H., da mesma linha, é confinado a labuta acorrentada (chain gang) numa mina no sul dos EUA. Seu filho, Willie, trabalha como zelador nos clubes de jazz em Harlem. Este é o outro grupo mais familiar: aquele de servidão geracional.

Há algo bem familiar sobre Homegoing, algo que poderia ser convidativo ou amaldiçoado. A novela, embora estruturada de forma peculiar onde os capítulos se alternam entre a linhagem de família de Esi e Effia, está bem ciente dos seus predecessores. Em primeiro lugar, não se pode pensar sobre a saga geracional da família sem mencionar o livro Roots, por Alex Haley. O filho de Effia, como o Okonkwo legendário do livro “Things Fall Apart,” de Achebe, é um lutador. Jo, o neto de Esi, é um calafate em Maryland, como era Frederick Douglass. Tem uma referência ao ato de matar os próprios filhos para libertá-los, como Sethe em Beloved. Mas não são histórias roubadas, tanto quanto emprestadas, enfeitadas com um aceno da varinha de Gyasi.

Homegoing, de pronto, é uma história sobre o amor. Ambas as árvores genealógicas abrigam uma intimidade indestrutível. Pelo fato que não aborda, exclusivamente, a brutalidade e injustiça, diferencia-a das outras novelas de escravos. Não é apenas a superação que mantém a linha genealógica indo pra frente, mas o amor duradouro. Este foco redirecionado é, talvez, o triunfo maior de Gyasi. Como ela escreve para Yaw, o professor, “Nós acreditamos na pessoa que tem o poder. É ele que escreve a história”. Não é um pensamento particular; o mesmo ideal foi usado para explicar a história em geral. Para o uso próprio, Gyasi ainda transforma uma história comum de subjugação em uma história de amor profundo.

As narrativas de escravos podem ser cansativas. O assunto tem sido cutucado e incentivado tanto, que alguém pode se perguntar se houvesse qualquer novidade para recolher. O fato que esta época escura rodeia, assustadoramente, a consciência de muitos escritores negros,  mostra que tais esqueletos coloniais ainda pairam sobre nós. E com razão. Porque na grande história do tempo, a escravidão foi somente um piscar de olho no passado—e em alguns casos—no presente.

Sidik Fofana é mestrado em escrita criativa pela New York University. Ele ensina em Brooklyn